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Pela primeira vez, Unespar concede título de mestre a estudante surda

Geral, Pesquisa

Aline Pedro Feza passou por três Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES) durante sua trajetória acadêmica.
publicado: 27/06/2025 11h28 última modificação: 27/06/2025 11h28
por Marina Santos Daum
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Aline Pedro Feza passou por três Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES) durante sua trajetória acadêmica.

A Universidade Estadual do Paraná (Unespar) concedeu, pela primeira vez, título de mestre a uma pessoa surda, por meio do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (Profei). Aline Pedro Feza defendeu a dissertação no dia 11 de junho e pesquisou sobre o ‘Letramento Visual e/no Processo de Apropriação da Língua Portuguesa Escrita pela Criança Surda’.

Sua carreira acadêmica começou da Universidade Estadual de Maringá (UEM), quando ingressou no curso de pedagogia, em 2006. Aline não nasceu surda, mas foi perdendo a audição no decorrer da vida. “Antes de entrar na graduação, eu ouvia 70% em um dos ouvidos. Aos 18 anos eu já tinha 25% de audição em um ouvido e 7% no outro”, contextualiza. Sua perda auditiva foi gradual, com o decorrer dos anos, por conta do fator genético e uma doença autoimune.

“Por não ter nascido surda, eu sou oralizada, mas sempre usei aparelhos auditivos. A minha dificuldade está no fato de, às vezes, as pessoas pensarem que compreendo tudo que é falado. Ouvir e falar, não significa que entendo tudo”, explica Aline sobre seus desafios. Outra dificuldade que encontrou no início de sua trajetória foi ao escrever em português. “Meus professores e colegas de turma não compreendiam o que eu falava e escrevia”, exprime.

Mas Aline superou seus desafios. Até chegar ao mestrado, Aline fez três especializações: em Educação Especial, Gestão e Tutoria em EAD e Psicopedagogia Clínica/Institucional. Em 2018 ingressou na segunda graduação em Letras – Libras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e em 2023 ingressou no Mestrado da Unespar voltado para profissionais da rede pública de educação, já que é concursada da prefeitura de Maringá.

Durante as aulas da pós-graduação stricto sensu, Aline sempre contou com intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras), o que a ajudou a compreender os conteúdos das aulas. Porém, fora das aulas e em atividades extracurriculares, externas à Unespar, a estudante não teve um profissional que a auxiliava. “Mesmo quando não tinha intérprete, fui tratada com respeito por meus colegas. Também tive uma amiga muito paciente, a Ana, que sempre que eu ficava com dúvidas nos recados ou avisos das aulas, eu a procurava e ela sempre me ajudava”.

Para Aline, seu maior desafio foi durante a dissertação. “Minha orientadora ajudou muito e teve muita paciência. Várias vezes, nas orientações, não tinha intérprete disponível, mas minha orientadora falava devagar, alto e articulando bem as palavras, até repetia várias vezes as explicações do que eu precisava fazer”, relembra.

Conforme a Lei Federal nº 13.146, de 6 de julho de 2015, as instituições devem ofertar tradutores e intérpretes da Libras para acompanharem pessoas surdas. Os intérpretes da Unespar fazem parte da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). Em 2023, a Pró-reitoria de Políticas Estudantis e Direitos Humanos (Propedh), publicou uma orientação que ensina como solicitar profissionais da área ao órgão responsável.

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Para a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG), Thais Gaspar, a inclusão na Unespar tem acontecido com mais frequência, por conta do aumento nas demandas. “No ambiente universitário, essa inclusão só se consolida por meio da mudança de comportamento institucional e da oferta de cursos que efetivamente promovam a formação acadêmica e a inserção de pesquisadores com deficiência. A nossa Universidade, por meio de sua política de inclusão, inclusive na pós-graduação, tem contribuído para a transformação dessa cultura, adotando um olhar pedagógico e científico voltado à redução das assimetrias que afetam esses grupos na sociedade”, explica.

Aline confirma o que foi dito pela pró-reitora, ao afirmar que na Unespar sua deficiência não a diferenciou dos demais estudantes. “Fui incluída, nunca questionaram minha identidade enquanto surda, ou a minha língua. A minha comunicação foi respeitada”, reconheceu.