Unespar participa de pesquisas na Antártica para estudar macroalgas
Docentes de oito universidades do Brasil e do exterior (em cooperação), incluindo a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), desenvolvem projetos de pesquisa visando estudar macroalgas marinhas em ilhas do Arquipélago das Shetland do Sul e Mar de Weddell. O objetivo é prover informações para base de dados de monitoramento global, frente às mudanças meteorológicas e oceanográficas (popularmente conhecidas como mudanças climáticas). Estas mudanças ocasionam alterações na riqueza de espécies, de seus graus de endemismo, distribuição biogeográfica e conexões intercontinentais, e por isso as algas são reconhecidamente bioindicadoras ambientais, ou organismos sentinelas.
O estudo faz parte do subprojeto do PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro) intitulado “Mudanças climáticas e seus efeitos na diversidade, distribuição e potencial bioativo de macroalgas da Antártica”, coordenado pela Prof. Dra. Franciane Pellizzari, do campus de Paranaguá, que acabou de chegar de uma expedição à Antártica, onde permaneceu por cerca de 40 dias. A docente também é coordenadora do Laboratório de Ficologia e Qualidade de Água Marinha da Unespar, do campus de Paranaguá e presidente da Comissão de Infraestrutura Multiusuária de Pesquisa (IMP), também da Unespar.
Franciane explica que o sub-projeto está inserido no projeto guarda-chuva MYCOANTAR, sobre fungos da Antártica associados a outros organismos (incluso algas) “onde estuda-se a sistemática, dispersão, conexões com a América do Sul e bioprospecção de substâncias para usos na medicina, indústria e agricultura sob a coordenação do Dr. Luiz Henrique Rosa, do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais.”
As pesquisas, segundo a coordenadora, contam com financiamento do CNPq, apoio financeiro do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e apoio logístico da Marinha do Brasil, via Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM). Ela conta que o projeto ficou a bordo do Navio Polar Almirante Maximiano (H41), da Marinha do Brasil e, no final, também receberam apoio do Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel (H44). Entre as universidades envolvidas estão, além da Unespar, IB-USP, UNESP, UNB e a Universidad de Magalhanes (UMAG), no Chile.
Essa é a 13ª Operação Antártica da pesquisadora, em que a equipe está dando continuidade a um monitoramento de espécies de macroalgas no arquipélago das Shetland do Sul, que teve início em 2006. Além disso, esclarece Franciane, foram coletadas amostras de algas de alta biomassa para fazer elucidação de compostos bioativos com potencial antioxidante, antibacteriano e fotoprotetor, que possam servir de modelos de moléculas com potencial de usos nas indústrias fármaco-cosméticas.
Franciane avaliou a expedição à Antártica (Operantar 41) como “muito produtiva cientificamente”, apesar de algumas dificuldades recorrentes: “A Antártica é o continente dos extremos com muito frio, muito vento, muito seco, com ondas muito grandes, mas com uma biodiversidade peculiar, extremamente adaptada, e para alguns grupos de organismos ainda inexplorada ou pouco estudada. Mas há também paisagens e oportunidades maravilhosas para biólogos, glaciologistas, meteorologistas, geólogos e oceanógrafos, dentre outros pesquisadores amantes do oceano.”
Como resultado das análises, o grupo interdisciplinar e interinstitucional de pesquisa polar, já produziu mais de 40 publicações entre artigos científicos, livros e capítulos de livros, além de TCC, dissertações e teses.
Na Operantar 41, Franciane conta que conseguiram coletar amostras nas ilhas Deception e King George, duas das 11 principais ilhas do Arquipélago das Shetland do Sul. “É na ilha Rei George que está localizada nossa nova e extremamente bem equipada Estação Antártica Comandante Ferraz, a qual foi recém-inaugurada em 2020, após o incêndio de 2012. Além disto, durante o porto de reabastecimento, realizamos uma amostragem de macroalgas e fungos associados próxima à Punta Arenas, no Chile, em cooperação com a UMAG e com o apoio dos Drs. Andres Mansilla e Johanna Marambio”, revela.
Durante todo o percurso navegado, do Rio Grande até Ilhas Falkland (Malvinas), e de Punta Arenas até a Antártica, as equipes de pesquisa a bordo do H41 (MYCOANTAR e MEPHYSTO), esta última coordenada pelo Dr. Moacyr Araújo, vice-reitor da Universidade Federal do Pernambuco, realizaram amostragens em coluna de água, através de lançamento de Rossette em profundidade de até 5 mil metros, visando realizar perfis oceanográficos físico-químicos e amostragens biológicas.
Franciane completa esclarecendo que as trocas oceano-atmosfera que ocorrem na Antártica “regulam o clima principalmente do Hemisfério Sul, por isto chamamos a Antártica de `laboratório natural´. Já as ilhas Shetland do Sul são consideradas uma zona de transição entre o fim da América do Sul e Antártica, por isso seu estudo é tão relevante, e onde as mudanças climáticas, e na biota estão ocorrendo mais abruptamente, e as macroalgas ajudam a interpretar estas mudanças ambientais.”
Por fim, a docente ressalta que através da identificação de novos registros de algas nas ilhas ao longo do tempo, através de técnicas morfológicas e moleculares, ela e a equipe testam a hipótese de que “a Antártica pode não estar mais tão isolada frente às mudanças meteorológicas e oceanográficas globais.”